quinta-feira, dezembro 17, 2009

aquário

Ele estava lá, desde tempos imemoriais. Desde pelo menos o início deste milênio, isso eu posso afirmar por vivência própria. No começo você podia até achar estranho esse lugar. A primeira vez que ouvi seu nome, foi no terceiro dia de "apresentação da faculdade", quando os veteranos nos levaram para conhecer o hospital. Eram alunos dos outros anos, até alguns residentes, e os assistentes nos contando histórias sobre a faculdade, nos mostrando os anfiteatros e enfermarias. E o ponto de encontro: no aquário do quinto andar do hospital. Mas naquela ocasião eram tantas estranhezas que ter um aquário - que era uma lanchonete - no quinto andar que na verdade era o andar que dava pra rua, era o de menos. Não tenho como afirmar porque não vi, mas imagino, sim, a mesma senhora reclamando da falta de troco desde aquela época. Isso porque naquele tempo a mesma família também tinha um outro espaço, em outro quinto andar. E a história dessa família vai muito além, se mistura com a história da própria faculdade, da ditadura militar. Mas essa é uma história que eu não sei contar. Eu só sei que faz muito tempo. Quer dizer, fazia. Sei lá porquê, sei lá quem inventou que essa história não cabia mais naquele lugar. Tá certo que todo mundo reclamava: muito cheio, atendentes nem sempre bem humorados. Mas era tradição. Não só a tradição do lugar em si - o que já não é pouca coisa considerando que estamos todos sem ter onde tomar café, almoçar, pegar um refri correndo; mas a tradição de um outro tempo da faculdade. Da faculdade SIM porque o hospital se chama Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Infelizmente muita gente se esquece disso - ou pior, finge não saber, não se interessar. Eu não acho errado, de forma nenhuma, fazer licitação para saber quem vai ficar com uma lanchonete movimentada como aquela (quem não queria ter um ponto como esse....). Eu acho errado o modo como isso foi feito, pelas costas, praticamente despejando toda aquela história dali, como se não valesse nada. História de vida pessoal, história do nosso país. Falta de consideração por tudo que já foi feito.
Consideração. Acho que essa palavra, ou melhor, esse conceito está fora de moda.

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