quinta-feira, dezembro 10, 2009

A menina tirou uma caixinha empoeirada lá do fundo do armário. Nessas horas, por mais que o tempo passe, ela sempre será uma menina. Assoprou de levinho para tirar a poeira: "caixinha dos sonhos passados". Sorriu. Sorriu e sorriu de novo. Era sempre uma delícia tirar essa caixinha das profundezas do esquecimento. Endireitou a postura - este era um momento muito solene. Abriu a caixinha com sorriso nos lábios e alguma tristeza no olhar: é sempre triste enterrar alguma coisa, não importa o que seja. Lágrimas por ninguém, só porque é triste o fim, já dizia a canção. Logo que a menina viu todos aqueles sonhos passados brilhando lá dentro a tristeza passou. Viu o sonho da cama cor-de-rosa da Barbie, viu o sonho do Escort XR3 amarelo conversível (haha, esse é o sonho passado mais engraçado, ela ainda nem sabia o que era embreagem!!), viu outros sonhos bem mais tristes que não merecem ser lembrados, viu o sonho de ser jornalista, viu o sonho de ser primeira bailarina do Municipal (ou bailarina do Bolshoi, tanto faz), viu o sonho de um olho azul só (só unzinho!!), viu o sonho de morar sozinha no exterior. Todos aqueles sonhos ali, encaixotados, que não incomodavam mais. Que tinham deixado de ser sonho para ser história. Alguns por obra do destino, outros pelo passar do tempo, outros por outras escolhas. Tantos sonhos agora teriam mais uma companhia: o sonho do crachá amarelo e azul. E por mais que esse texto possa até parecer triste, eu juro que não é. Alguns sonhos são para ser realizados. Outros existem só para que possamos ter a eterna nostalgia do como teria sido. E outros existem simplesmente para serem guardados na caixinha dos sonhos passados e virar lembrança. Porque o meu sonho agora (e já há alguns meses) é outro. E eu, hoje, estou com a mesma exata sensação que tive no meio do ano quando decidi que queria fazer o fellow: libertação. Sei que não depende, em absoluto, de mim. Mas é esse o sonho o que eu não quero enterrar.

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