É possível ter saudade de muita coisa, de muita gente. A saudade, um sentimento exclusivo do português, é um buraco sem fundo: e quanto mais fundo, mais triste.
A saudade do que não se pode viver de novo. Aqueles dias em que a única preocupação era conversar com os amigos. Poder almoçar sempre com os amigos. Aquelas tardes em que filmes eram apenas um pretexto. Os fins de semana de 60 horas. Fazer trabalho de escola. Dormir a tarde toda. Não saber o preço da conta de telefone. Não ter celular. Faltar na aula só porque acordou com preguiça. Sonhar com a carteira de habilitação. Passar bilhetinho na aula para a melhor amiga.
Saudade de tudo que eu ainda não vi. Saudade dos sonhos que nunca se realizarão, saudade do que aconteceria se eu continuasse, saudade da mocinha que seria bailarina, jornalista, química, terapeuta ocupacional, cientista, mãe aos 25. Não vai dar para viver nada disso. Que saudade....
Saudade das pessoas. Temporária, curtinha. Saudade dos que morreram. Saudade dos que ainda vão morrer - e só de pensar nessa saudade, o buraco aumenta, aumenta, aumenta. Como será quando acontecer? Uma saudade insuportável de tudo que não será vivido....
Saudades bobas. Saudades duras. Tristes.
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