Se esse não fosse um blog sério e elegante, eu definiria essa tristeza simplesmente como uma tristeza F. Mas vou me esforçar e tentar defini-la de uma maneira mais polida.
Você entra na faculdade, estuda, escolhe uma especialidade, presta prova de residência. Então você buxa, buxa e buxa mais um pouquinho. Aí termina. E vai trabalhar.
Sabe o que você encontra?
Exploração, mais buxa, bizarrices.
Exploram seu conhecimento, surgem buxas e mais buxas. Você é empurrado para um mundo triste, no qual para sobreviver ou você se submete ou vai trabalhar como clínico geral em porta de PS. Depois de tudo aquilo? Não, eu sou especialista.
Ótimo. Então vamos te aproveitar num hospital bom. Mas, tem um detalhe. O sobreaviso é de graça, você é obrigado a ficar de "segundo" e pode ser que você fique aqui a tarde toda e só atenda dois pacientes. Precisa ficar, hein. Ah, não falei que você ganhava por produtividade? Tudo bem, se você não quiser eu coloco outro idiota no seu lugar.
Decido procurar emprego num jornal, ambulatório. Ai que bom doutora, aqui temos bastante demanda pela sua especialidade. 24 pacientes em quatro horas tá bom? Aceita encaixe? Ih, doutora.... o corpo estranho que a senhora tirou do ouvido da criança não vai poder ser cobrado do convênio porque a senhora não fez a solicitação prévia.... O que eu deveria fazer: pedir autorização ao convênio e esperar uma semana?
Entrei num esquema bom. Clínica bonita, em região nobre. A senhora tem três pacientes hoje à tarde: um às duas, outro às cinco e outro às sete. O das cinco é retorno e os outros dois o convênio deve pagar em cerca de 60 dias, aproximadamente 20 reais cada. É, 40 reais das duas às sete e meia comprometida. E lá vou eu, perfumada, de sorriso (mais falso que nota de três) no rosto.
Falando sério, seríssimo. Impossível não sentir tristeza. Sem falar na revolta. Mas isso é tema para outra série de posts.
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